sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

De 39º para 118º lugar, o algodão não engana

Em resposta à intervenção de Maria Teresa Serrenho, Presidente do MVC - VIVER O CONCELHO, Movimento Independente, na sessão de 11.02.2014 da Assembleia Municipal, a qual publiquei na minha cronologia no Facebook, o Dr. Fernando Costa, anterior Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha (de 1985 a 2013), publicou o seguinte comentário:


Diz o Dr. Fernando Costa que "concorda em grande parte com os princípios que refere" e que "o que não pode aceitar [...] é a sua afirmação de que as Caldas estão a definhar há décadas e apenas esta afirmação", lançando o repto de "comparar Caldas com [...] outro concelho à escolha". Muito bem, vamos então a números sobre o definhamento das Caldas da Rainha, já que quanto ao restante conteúdo da intervenção (o mais importante), ficamos a saber que o Dr. Fernando Costa confirma e concorda com a análise, as críticas e os apelos de Maria Teresa Serrenho (ver intervenção em http://detantoestarem.blogspot.pt/2014/02/os-independentes-do-mvc-dao-voz-aos.html), o que não deixa de ser muito interessante.

Identificámos três estudos sobre índices de desenvolvimento concelhio (se houver outros, por favor apresentem), um de Paulo A. Lucas da Fonseca (Índices de Desenvolvimento Concelhio, Revista de Estatística, 2002) - ver http://poolman.no.sapo.pt/desenvolvimento.pdf -, outro de José R. Pires Manso, Professor Catedrático da Universidade da Beira Interior e Responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social, e Nuno Miguel Simões, Técnico Superior Economista (Indicador Sintético de Desenvolvimento Económico e Social ou de Bem-Estar dos Municípios do Continente Português, 2009) - ver http://www.dge.ubi.pt/pmanso/Estudo%20sobre%20qualidade%20de%20vida%20dos%20concelhos%20portugueses%202009.pdf - e, finalmente, o estudo de José R. Pires Manso, Prof Catedrático, UBI, António F. de Matos, Prof Auxiliar, UBI, e Fátima Gonçalves, Investigadora, UBI (Os Municípios e a Qualidade de Vida, 2012) - ver http://www.cm-viladerei.pt/upload/files/noticias/2013/Qualidade%20de%20Vida/Os%20Munic%C3%ADpios%20e%20a%20Qualidade%20de%20Vida2012.pdf.

O estudo de Paulo Lucas da Fonseca baseia-se em dados de 1998 e coloca as Caldas da Rainha na 39ª posição, com um Índice Global de Desenvolvimento Concelhio de 93,5 (abaixo da média - Base: 100), atrás de concelhos como Leiria, Santarém e Marinha Grande:


Nos Índices Parciais de Desenvolvimento Concelhio, a posição das Caldas da Rainha era a seguinte (média - Base:100):
- Saúde e Assistência Social: 26ª posição, com um IDC de 100;
- Rendimento: 37ª posição, com um IDC de 98;
- Emprego e Actividade Económica: 45ª posição, com um IDC de 100;
- Demografia: 65ª posição, com um IDC de 88,6;
- Educação e Cultura: 71ª posição, com um IDC de 88,3.
Ou seja, em nenhum destes Índices as Caldas da Rainha se encontravam, em 1998, acima da média nacional.

O estudo de José Pires Manso contém dados relativos a 2006 e coloca as Caldas da Rainha em 41ª posição do ICQV/ICDES, registando uma queda de 7 posições relativamente a 2004. Neste período, Alcobaça e Óbidos, apesar de se acharem atrás das Caldas da Rainha, sobem 18 e 49 posições, respectivamente.


O mesmo investigador, replicando o estudo 4 anos mais tarde (dados relativos a 2010), chega aos seguintes resultados:


Vê-se, assim, que em finais da primeira década do século XXI, as Caldas da Rainha caem abruptamente para a 118ª posição, abaixo (ou muito abaixo) dos concelhos vizinhos de Nazaré, Leiria, Óbidos, Santarém, e Rio Maior.

Face a estes dados, calculados com base em metodologias rigorosas e científicas, o que tem Fernando Costa a dizer? Estão ou não as Caldas da Rainha num processo de degradação e definhamento há mais de duas décadas? Poderá argumentar que aumentou o parque imobiliário e encheu os bolsos de uns quantos construtores (e não só...), mas que orgulho isso lhe pode dar? Poderá dizer que criou o TOMA, o CCC e mais uns quantos equipamentos sociais (alguns a caírem por falta de manutenção), mas os outros concelhos não criaram também? Ganhou a ESAD, mas não perdeu a UAL? E não se perderam os eventos no parque, a vida nocturna, o tecido comercial, a conservação e beleza da cidade, o hospital de agudos e termal, o comboio, etc, etc?

O que é certo é que as Caldas da Rainha perderam "quota de mercado", ou porque se andou para trás ou porque o país andou mais depressa do que as Caldas. Já não tem, nem a notoriedade, nem o prestígio, nem a centralidade de outrora. As Caldas da Rainha passaram a ser mais conhecidas pelo episódio do "copo de vinho" (no congresso do PSD) do que pela cerâmica, fruta, termas ou praias, não tendo sido sequer capaz de aproveitar e ir à boleia do desenvolvimento de Óbidos e outros concelhos vizinhos. Este retrocesso reflectiu-se, naturalmente, nos resultados eleitorais do PSD, os quais têm vindo a cair ao longo dos anos.


Fernando Costa pode gritar, esbracejar ou espernear, mas a realidade é a que é. Se está apenas iludido ou se, pelo contrário, pretende conscientemente enganar os caldenses, é problema seu, o certo é que a "obra" de Fernando Costa e do PSD é um embuste e só continua a cair nele quem quer, pois, como diz o anúncio, "o algodão não engana". Ficamos, assim, conversados em matéria de ética, de transparência e de competência. E quanto à "gratidão à terra que amamos", esta não se pode confundir com qualquer tipo de subserviência aos políticos, os quais são eleitos para servirem (e não para se servirem) de forma transparente (e não sombria), com democracia e justiça (e não com caciquismo e favoritismo).


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