sexta-feira, 24 de abril de 2015

171. Dizer NÃO

Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'



terça-feira, 14 de abril de 2015

170. Sem rei nem roque

Caldas da Rainha é uma cidade "sem rei nem roque", onde demasiados cidadãos desrespeitam as mais elementares normas de cidadania, como deixar o lixo fora dos caixotes, não apanhar os dejectos dos seus caninos, estacionar irregularmente, etc, etc.
Ontem à noite, por exemplo, quatro cães brincavam dentro do parque infantil da Av. da Independência nacional, sob o olhar divertido dos seus donos... E o que faz a autarquia e a PSP (já que não existe polícia municipal)? Muito pouco, permitindo que cresça um sentimento de grande desconforto e insegurança.
A agravar a situação, a Câmara não cuida da manutenção dos equipamentos municipais e fecha os olhos aos stands ilegais no espaço público, aos cartazes sem um mínimo de apresentação e já fora do prazo, ao entulho despejado em terrenos baldios, entre muitos outros exemplos.
Até quando durará esta anarquia? Eu respondo: até quando os caldenses quiserem. Uma Câmara atenta e responsável resolve muitos destes problemas em poucos dias.