sexta-feira, 18 de setembro de 2015

185. A cidade e a escola

Um estudo publicado pelos investigadores do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) J. M. Silva, E. Lucas e A. Nicolau, concluiu que, em 2012, o impacto económico, directo e indirecto, nos concelhos onde se situam as Escolas que compõem o universo IPL – Leiria, Peniche e Caldas da Rainha – “foi superior a 171,7 milhões de euros, o que corresponde a um retorno de 8,07 euros por cada euro investido pelo Estado no financiamento do IPL e a um peso de 5,98% no PIB dos concelhos considerados, a que se associa a criação de 6.321 empregos, que representam 6,27% da população activa destes concelhos”. Para o presidente da Instituição, Nuno Mangas, este impacto “promove o desenvolvimento das regiões onde se inserem, pela qualificação que proporcionam as suas actividades de educação e formação, pelo conhecimento e inovação que geram através da investigação e desenvolvimento, e pelas dinâmicas sociais e culturais que trazem associadas às suas actividades e iniciativas”. Fica, assim, confirmada a noção que se tinha, de que os estabelecimentos de ensino superior contribuem significativamente para o desenvolvimento dos territórios onde se localizam, demonstrando uma elevada capacidade de atracção e fixação de novos habitantes – p.e. cerca de dois terços dos alunos provêm de locais a mais de 50 km e quase metade manifesta a intenção de permanecer na região após a conclusão da sua licenciatura.
Contudo, a perspectiva da relação escola-cidade deve também ser entendida em sentido inverso, ou seja, da relação cidade-escola. Quando a cidade “reconhece, exercita e desenvolve, para além das suas funções tradicionais, uma função educadora, quando assume a intencionalidade e responsabilidade da formação, promoção e desenvolvimento de todos os seus habitantes”, torna-se uma Cidade Educadora (Declaração de Barcelona, 1990). O sociólogo Joaquim Machado defende que a cidade deve constituir-se como agente educativo, oferecendo aos seus habitantes os meios e oportunidades de formação, entretenimento e desenvolvimento pessoal, em condições de liberdade e igualdade. Para este especialista, a avaliação da capacidade educadora da cidade passa, por um lado, pela análise do potencial organizativo do município (recursos humanos e organização dos serviços) e das actividades de âmbito social, cultural e educacional que realiza – incluindo iniciativas privadas, cooperativas, associativas e comunitárias – e, por outro lado, pela observação das acções de remoção de obstáculos arquitectónicos em edifícios e espaços públicos, de revitalização dos centros históricos, de devolução da cidade aos peões, de criação de parques e espaços de lazer, de habitação e alojamento social, e de protecção e segurança.
Edgar Faure afirmava, já em 1972, que a escola terá cada vez maiores dificuldades em assumir sozinha as funções educativas da sociedade, mas que a cidade contém um enorme potencial educativo por explorar, a nível de conhecimentos, civismo e solidariedade. Pelas suas características, Caldas da Rainha tem a necessidade e a obrigação de aplicar a Carta das Cidades Educadoras, possuindo todas as condições para o fazer. Não se trata, como defende o pedagogo Cabral Pinto, de a escola se abrir à comunidade, nem de esta se abrir à escola, mas de a comunidade organizar um sistema educativo, em que a escola se integra, em função de um projecto educativo integral e integrador. Foi para assegurar o cumprimento da referida Declaração que, em 1994, nasceu a Associação Internacional de Cidades Educadoras, a qual integra actualmente 56 municípios portugueses, incluindo Torres Vedras, Rio Maior, Santarém e Leiria. Estranhamente, Caldas da Rainha está fora deste movimento. Alguém nos pode explicar porquê?

(Publicado na Gazeta das Caldas, em 18.09.2015)