sexta-feira, 13 de junho de 2014

119. Quanto perdemos, quanto poderíamos ganhar

Um dos conceitos básicos da teoria económica é o de custo de oportunidade, isto é, aquilo que deixamos de ganhar quando fazemos opções piores do que aquelas que poderíamos (e deveríamos) ter feito. Deixar de ganhar é, obviamente, perder, pois os recursos são escassos e caros. No entanto, esta perda não é tão evidente, nem consensual, como aquela em que um determinado activo ou valor desaparece ou se revela inútil. Além disso, ela depende da vontade e da confiança que se tenha na possibilidade de alcançar um ganho superior ao que se aceitou, ou seja, da nossa ambição e sentimento de auto-eficácia. Estes constrangimentos limitam, frequentemente, a nossa capacidade de compreender a realidade e sobre ela exercer um juízo crítico apurado.

No que diz respeito à nossa comunidade e ao todo societal, temos de nos perguntar quanto nos têm custado as opções eleitorais que temos feito? Quanto temos perdido por nos alhearmos da política e não exercermos os nossos direitos e deveres cívicos? Quanto deixámos de ganhar e progredir nestes 40 anos de democracia, por deixarmos os partidos e a política à mercê de gente egoísta e oportunista? Quanto nos temos atrasado e prejudicado, por escolhermos mal ou deixarmos sem controlo, nem exigência, sucessivos presidentes, governantes e autarcas? Nas recentes eleições europeias, mais de 6,5 milhões de eleitores portugueses decidiram não se pronunciar. Não acham estes cidadãos, parafraseando por analogia Georges Clemenceau, que a política é coisa demasiado séria para ser confiada aos políticos?

Aqui pelo burgo, importa também fazer este exercício de custo-benefício. Quanto nos custou já este executivo camarário, em termos de políticas que não adoptou, de iniciativas que não realizou ou de boas decisões que não tomou ou rejeitou? Evidentemente que ninguém faz tudo errado e que algum mérito deverá ser assacado a esta, ou qualquer outra, vereação. O que deve ser avaliado é o diferencial entre o proveito do que se fez e os custos, tanto do que foi feito, como do que se deixou (alternativamente) de fazer, pois não é sério considerar apenas proveitos ou apenas custos. Tudo considerado, cada um desses saldos foi positivo? Se as opções tivessem sido outras, esses saldos poderiam ter sido mais positivos? Se houvesse efectiva transparência, saberíamos fazer as contas e avaliar; mas, como não é manifestamente o caso, cada um ficará com as suas convicções e atitudes.

Claro que o proverbial fado lusitano logo dirá que "é sempre possível fazer melhor", que "os outros só sabem dizer mal", que "é mais fácil dizer do que fazer" ou que "para pior já basta assim". Desta maneira se foge a um debate sério de ideias e soluções, a uma busca empenhada do bem comum e a uma desejável prestação de contas e avaliação de responsabilidades. E quem perde? São sempre os mesmos, os cidadãos que se demitem, de forma alegremente inconsciente e levianamente irresponsável, dos seus direitos e deveres de cidadania, dividindo-se e enfraquecendo-se em vez de se unirem e fortalecerem. Esta realidade está, contudo, a alterar-se, começando já a falar-se de uma “Revolução de Cidadania” (J. Gomes Ferreira, Expresso de 30.05.2014), a qual “já ganhou Câmaras Municipais, já está no Parlamento Europeu e, em breve, estará a bater à porta da Assembleia da República”.

José Rafael Nascimento
(publicado no Jornal das Caldas, em 12.06.2014)




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