sábado, 10 de outubro de 2015

186. Parques e gazelas

O INE designa por “empresas gazela” ou sociedades jovens de elevado crescimento, aquelas que foram criadas há menos de cinco anos e possuem um crescimento médio anual de colaboradores acima de 20% nos últimos três anos. Estas organizações, apesar de representarem uma pequena percentagem do universo empresarial, constituem um indicador de dinamismo económico, criador de emprego, riqueza e desenvolvimento nos territórios em que se inserem. Elas são fortemente inovadoras e capazes de se diferenciarem nos mercados em que actuam, afirmando a sua competitividade e construindo sucesso a um ritmo acelerado. Foi o norte-americano David Birch quem, em 1980, sugeriu o conceito de “empresas gazela”, distinguindo-as das grandes “empresas elefante” e das micro “empresas rato”, ambas com fraca capacidade para criar novos postos de trabalho.
Entre 2009 e 2011, já em período de crise latente em Portugal, existiam na Região Centro 53 “empresas gazela”, cada uma delas empregando pelo menos 10 trabalhadores e possuindo uma facturação igual ou superior a 500 mil euros. Estavam presentes em 31% dos municípios, sendo Leiria aquele que apresentava o maior número. Entre 2011 e 2013, com o país sob assistência financeira internacional, o número de “empresas gazela” na região caiu para 46, reduzindo-se também em dois pontos percentuais os concelhos onde se encontravam sediadas, passando Torres Vedras a liderar. Em termos sub-regionais, destacava-se a região Oeste, pertencendo a maioria das “empresas gazela” aos sectores tradicionais do comércio, construção, indústria (transformadora), transportes e armazenagem. Em três anos, estas empresas quadruplicaram os seus colaboradores e alcançaram um patamar de exportações na ordem dos 38% do seu volume de negócios (7% em 2011).
Pelos dados disponíveis, Caldas da Rainha terá perdido nos últimos anos as poucas “empresas gazela” sediadas no concelho, todas elas do sector dos transportes, tendo sobrevivido provavelmente uma. Quando se olha para o panorama empresarial mais geral, verifica-se que Caldas da Rainha sofreu a tendência recessiva das principais economias do Oeste, perdendo num só ano, entre 2011 e 2012 (últimos dados do INE), em termos líquidos, 423 empresas, o que representou 6,7% do tecido empresarial do município. Como reagiu a autarquia a esta sangria? Mobilizou-se suficientemente para a criação de condições de atracção de investimento? Exerceu influência junto de potenciais investidores nacionais e estrangeiros? Explorou os acordos de geminação firmados com municípios de outros países? Construiu o parque empresarial que havia prometido e onde ainda enterrou alguns milhares de euros?
Falta-nos informação actualizada mas, pelas escassez de notícias sobre a instalação de novas empresas, o marasmo parece ter sido a regra e pouco se fez (e continua a fazer) para contrariar a morte e a deslocalização das empresas sediadas no concelho. A consequência foi o aumento do desemprego que, agora, parece ter baixado um pouco por razão da saída de pessoas qualificadas para outros concelhos e o estrangeiro. Isto não significa que não tenha havido algum investimento no município, como foi o caso da construção de mais um parque de estacionamento para automóveis, mas qual é a qualidade desse investimento? Quantos empregos criou? Quanto investimento adicional atraiu? Óbidos, por exemplo, também construiu um parque, mas empresarial e tecnológico, onde se instalaram novas empresas e para onde mudaram algumas de Caldas da Rainha. Não será já tempo de haver mais visão, mais empenho, mais cooperação, mais eficiência e melhor aplicação do dinheiro?

José Rafael Nascimento
(Publicado na Gazeta das Caldas em 09.10.2015)





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