domingo, 1 de março de 2015

168. O buraco das Caldas

Quatro anos após a aprovação da construção e catorze meses depois do seu início - o dobro do prazo previsto, depois de sucessivos e injustificados adiamentos -, é hoje inaugurado mais um parque de estacionamento em Caldas da Rainha. Pela sua dimensão e localização, frente à Câmara, ao Tribunal e à Igreja, o executivo camarário do PSD dá-lhe honras de "obra do regime", como se um buraco para automóveis tivesse a importância de um parque científico ou empresarial, de um complexo termal ou de um centro hospitalar.

Um parque de estacionamento não passa de um parque de estacionamento, por mais jeito que dê a quem não queira ter o incómodo de estacionar uma centena de metros mais adiante - perto do PSP, no CCC, na Pçª 5 de Outubro, junto ao Barclays, frente à Estação, na Rua da Fonte do Pinheiro, etc.). Custou, pelo menos, 3,6 milhões de euros, dinheiro que poderia e deveria ter sido aplicado no aumento da capacidade de atracção e desenvolvimento económico de Caldas da Rainha e na melhoria do nível de emprego e de bem-estar da população.

Pior, este parque de estacionamento foi pensado de forma isolada, sem considerar toda a problemática dos acessos, circulação e escoamento do trânsito na cidade, deixando-se para trás a repavimentação das principais vias de acesso, como as Ruas Vitorino Fróis e da Estação, as quais se encontram em inaceitável estado de degradação. Ou seja, o indigente poder autárquico do PSD compra uma "jóia" cara com uma fortuna que lhe deram, pretendendo ignorar que o corpo urbano anda sujo, roto e mal vestido.


Claro que, estando ali o parque, os caldenses irão usá-lo sempre que precisarem. mas, de cada vez que lá entrarem, pensarão (como eu) em tudo aquilo que, sendo prioritário, poderia ter sido melhorado na cidade e no concelho. Fazer política é fazer escolhas, em nome do bem comum e pensando nos mais necessitados, aplicando recursos escassos a projectos que proporcionem maior retorno económico e social. Veja-se o caso de Óbidos que optou por investir num parque tecnológico, ao invés de o fazer num também necessário parque de estacionamento.

O parque de estacionamento da Praça 25 de Abril vai ser hoje inaugurado, mas a principal via de acesso ao mesmo, a Avenida 1º de Maio, não tem ainda sinalética horizontal e vertical e a Rua Engº Duarte Pacheco está ainda fechada e por acabar. Inaugura-se o que não está concluído, ao sabor dos timings que mais convêm à autarquia partidária, sempre com o argumento demagógico de que isso é feito no interesse dos cidadãos. E oferecem-se quinze dias de estacionamento gratuito, com base numa falaciosa generosidade e benemérita intenção. É tudo assim...

O dia de hoje é de festa, para alguns que gostarão de assistir à presença do senhor doutor governante de Lisboa que tem muito bom aspecto e deu dinheiro às Caldas, ao lado do senhor doutor presidente da Câmara que é muito boa pessoa e dá um equipamento novo ao município. Obrigadinho, obrigadinho... Mas, daqui a uns meses, talvez já não se lembrem da "preciosidade" e pensem mais na falta que fazem estradas sem buracos, contentores de lixo com suficiente capacidade e um hospital com as necessárias condições. Ou só se lembrem da falta de manutenção a que está destinado mais um equipamento municipal.

É que uma coisa é viver na doce e ilusória fantasia, outra bem diferente cair na dura realidade. E talvez se dêem conta, também, dos outros buracos que aí virão...


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