quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Aterosclerose democrática

Pela segunda vez, em poucas semanas, o representante do PSD no programa "Pontos de Vista" da Mais Oeste Rádio, vereador Reis Pereira, aparenta possuir uma esclerosada veia democrática. Depois de, há três emissões atrás, ter desvalorizado a cidadania participativa, defendendo que uma maioria absoluta tem legitimidade para fazer o que quIser (referindo-se à regeneração urbana), sem ter de debater previamente com os munícipes as suas decisões, designadamente aquelas que não foram especificamente sufragadas pelo voto, veio ontem desvalorizar o resultado eleitoral do movimento independente MVC - VIVER O CONCELHO, fazendo-o da forma que os enjeitados políticos deste corrompido sistema melhor sabem fazer: largar graçolas e piadolas, infantis e de mau gosto.

Evidentemente que se compreende o incómodo e a frustração de quem vê o poder fugir-lhe e, habituados que estão aos submissos boys partidários, não sabem como lidar com os cidadãos independentes (que chatice, não é?), os quais trazem para a política uma nova ética, uma nova competência e uma nova convicção, ganhando a crescente confiança dos eleitores. O MVC - VIVER O CONCELHO conseguiu, em quatro meses de existência, tornar-se a 3ª força política na Assembleia Municipal e ganhar a emblemática Junta de Freguesia da Foz do Arelho, tendo ainda eleito representantes para as duas maiores Assembleias de Freguesia do concelho. Será isto um resultado "fraquinho"? Ao contrário, o PSD perdeu um número significativo de votos, em termos absolutos e relativos, apesar do tradicional caciquismo e descarado abuso do poder. Quem pode sentir-se orgulhoso de não possuir a confiança da esmagadora maioria do povo português, como acontece hoje com os actuais partidos políticos?

Qual deveria ser, então, a postura de quem lidera politicamente um município e gere as preocupações e aspirações das suas gentes? Desde logo, de maturidade e sentido de responsabilidade, elevando o nível do debate, comunicando com clareza e objectividade, e respeitando todas as sensibilidades políticas e cidadãs. Depois, dispondo-se a escutar e acolher todas as ideias e sugestões que objectivamente contribuam para o aprofundamento da democracia e o desenvolvimento da comunidade, ao invés de procurar desvalorizar, ridicularizar e ostracisar quem se entrega generosamente à causa pública, em representação de milhares de cidadãos que merecem todo o respeito e consideração, mesmo não tendo votado nos que exercem temporariamente o poder.

Recomenda-se, por isso, uma outra regeneração urbana, a democrática e cidadã, a quem não a tenha suficientemente saudável e apresentável, recordando-se que o poder é efémero e existe simplesmente para servir (e não para se servir), com total humildade, responsabilidade e sentido de inclusão. Esse é o exemplo que deve deve ser dado, na rádio ou noutro lugar qualquer.


Bate fraco o coração desta democracia esclerosada


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