Em
Caldas da Rainha, o espaço público é cada vez mais um somatório de espaços
privados, onde cada um faz o que quer, sem respeito pela liberdade e direitos
dos seus concidadãos. Estaciona-se onde apetece, se necessário em segunda fila
ou em cima do passeio. Passeia-se o cão sem trela e no parque infantil, não se apanhando
os dejectos do animal. Coloca-se o lixo ao ar livre se o contentor estiver
cheio, não se importando com a saúde pública e a imagem da cidade. Bebe-se
cerveja na rua e largam-se as garrafas onde calha, partindo-as e espalhando os
cacos pelo passeio. Tudo se estraga, tudo se desrespeita, como se não houvesse
limite para os direitos e liberdades individuais. Em suma, uma cidade sem rei
nem roque onde os problemas urbanísticos e ambientais se agravaram nas últimas
décadas, revelando fraca capacidade para os prevenir e enfrentar.
Há
quem prevarique por falta de educação ou consciência, há quem se aproveite da
falta de fiscalização e punição, mas há, também, quem se inspire no desleixo e atabalhoamento da autarquia no que
concerne à conservação e valorização do espaço público: permitem-se
obras mal projectadas e executadas, ruas e passeios sujos e esburacados, equipamentos
públicos degradados e perigosos, terrenos cheios de mato e entulho, arte
escultórica avulsa e abandonada, ruído em horas de descanso, etc, etc. Porque é
que a Câmara fecha os olhos aos “stands”
automóveis ilegais em terrenos baldios? Porque permite a colocação de placards pirosos nas rotundas? Já chega
de desculpas mútuas e passagem de responsabilidades, procurando-se convenientes
bodes expiatórios. Todos têm de fazer a sua parte: a autarquia tem de mudar de
atitude e organizar-se devidamente para dar resposta às necessidades do
concelho, dotando-o dos recursos e processos apropriados; e os munícipes têm de
ter mais respeito pelo bem comum, cumprindo as normas municipais e comportando-se
correctamente para com os seus concidadãos.
O
espaço público é o espaço de fruição comum que a todos pertence. É nele que
circulamos, socializamos e partilhamos opiniões e sentimentos com quem habita,
trabalha ou visita o mesmo espaço colectivo. É também no espaço público que “se
forma a imagem da cidade, já que é por ela que os habitantes transitam e têm a
oportunidade de observá-la e entendê-la” (K.
Lynch). Quando
degradado, o espaço público deve ser rapidamente intervencionado, para evitar a
instalação de um ambiente de permissividade que
conduz inevitavelmente a um nível superior de delinquência, insegurança e fraca
qualidade de vida. Rudolph Giuliani, Mayor de Nova Iorque entre 1994 e 2002, demonstrou inequivocamente
o sucesso desta estratégia, instituindo um
sistema de informação que regularmente media a evolução de um conjunto de
indicadores de gestão urbana, permitindo às autoridades definir prioridades e
agir com grande eficácia.
Há
alguns meses, sentindo que o espaço público era (e é) motivo de constante
controvérsia e altercação – e não de harmonia e bem-estar da população –, alertei
a autarquia para o problema da (in)sustentabilidade ambiental da cidade e do
concelho. Sugeri, então, quatro acções fundamentais: a reestruturação e adequação
dos serviços camarários e municipais; o desenvolvimento
de campanhas de sensibilização cívica e ambiental; o reforço da fiscalização e
responsabilização das infracções; e a realização de um estudo periódico de avaliação
da opinião dos munícipes. Apesar da aparente concordância dos dirigentes
municipais, nenhuma destas sugestões foi posta em prática, pois a maioria PSD
só faz o que lhe apetece e despreza as opiniões de quem não é da sua cor
política. E, no entanto, elas visavam apenas assegurar um mínimo de dignidade a
Caldas da Rainha pois, em matéria de qualidade do espaço público, numa cidade
que se quer de cultura, arte e design,
é óbvio que a ambição e a competência deviam ser outras.
José
Rafael Nascimento
jn.correio@gmail.com
(Publicado na Gazeta das Caldas de 05 de Junho de 2015)
Placa sinalizadora durante as obras na Praça 25 de Abril
Prédio abandonado na Cidade Nova
Rua da Estação
Av. 1º de Maio
Largo do Hospital Termal
Av. 1º de Maio (nota: a carrinha está estacionada)
Estacionamento sobre o passeio no Parque D. Carlos I
Venda de viaturas no espaço público
Placard comercial em sinal de trânsito
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