Um dos conceitos básicos da teoria económica é o de custo de oportunidade, isto é, aquilo que deixamos de ganhar quando fazemos opções piores do que aquelas que poderíamos (e deveríamos) ter feito. Deixar de ganhar é, obviamente, perder, pois os recursos são escassos e caros. No entanto, esta perda não é tão evidente, nem consensual, como aquela em que um determinado activo ou valor desaparece ou se revela inútil. Além disso, ela depende da vontade e da confiança que se tenha na possibilidade de alcançar um ganho superior ao que se aceitou, ou seja, da nossa ambição e sentimento de auto-eficácia. Estes constrangimentos limitam, frequentemente, a nossa capacidade de compreender a realidade e sobre ela exercer um juízo crítico apurado.
No que diz respeito
à nossa comunidade e ao todo societal, temos de nos perguntar quanto nos têm
custado as opções eleitorais que temos feito? Quanto temos perdido por nos
alhearmos da política e não exercermos os nossos direitos e deveres cívicos? Quanto
deixámos de ganhar e progredir nestes 40 anos de democracia, por deixarmos os
partidos e a política à mercê de gente egoísta e oportunista? Quanto nos temos
atrasado e prejudicado, por escolhermos mal ou deixarmos sem controlo, nem
exigência, sucessivos presidentes, governantes e autarcas? Nas recentes
eleições europeias, mais de 6,5 milhões de eleitores portugueses decidiram não
se pronunciar. Não acham estes cidadãos, parafraseando por analogia Georges
Clemenceau, que a política é coisa demasiado séria para ser confiada aos
políticos?
Aqui pelo burgo,
importa também fazer este exercício de custo-benefício. Quanto nos custou já
este executivo camarário, em termos de políticas que não adoptou, de
iniciativas que não realizou ou de boas decisões que não tomou ou rejeitou?
Evidentemente que ninguém faz tudo errado e que algum mérito deverá ser
assacado a esta, ou qualquer outra, vereação. O que deve ser avaliado é o
diferencial entre o proveito do que se fez e os custos, tanto do que foi feito,
como do que se deixou (alternativamente) de fazer, pois não é sério considerar
apenas proveitos ou apenas custos. Tudo considerado, cada um desses saldos foi
positivo? Se as opções tivessem sido outras, esses saldos poderiam ter sido
mais positivos? Se houvesse efectiva transparência, saberíamos fazer as contas
e avaliar; mas, como não é manifestamente o caso, cada um ficará com as suas
convicções e atitudes.
Claro que o
proverbial fado lusitano logo dirá que "é sempre possível fazer
melhor", que "os outros só sabem dizer mal", que "é mais
fácil dizer do que fazer" ou que "para pior já basta assim".
Desta maneira se foge a um debate sério de ideias e soluções, a uma busca
empenhada do bem comum e a uma desejável prestação de contas e avaliação de
responsabilidades. E quem perde? São sempre os mesmos, os cidadãos que se
demitem, de forma alegremente inconsciente e levianamente irresponsável, dos
seus direitos e deveres de cidadania, dividindo-se e enfraquecendo-se em vez de
se unirem e fortalecerem. Esta realidade está, contudo, a alterar-se, começando
já a falar-se de uma “Revolução de Cidadania” (J. Gomes Ferreira, Expresso de
30.05.2014), a qual “já ganhou Câmaras Municipais, já está no Parlamento
Europeu e, em breve, estará a bater à porta da Assembleia da República”.
José Rafael
Nascimento
(publicado no Jornal das Caldas, em 12.06.2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário