Um
estudo publicado pelos investigadores do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) J.
M. Silva, E. Lucas e A. Nicolau, concluiu que, em 2012, o impacto económico, directo
e indirecto, nos concelhos onde se situam as Escolas que compõem o universo IPL
– Leiria, Peniche e Caldas da Rainha – “foi superior a 171,7 milhões de euros,
o que corresponde a um retorno de 8,07 euros por cada euro investido pelo
Estado no financiamento do IPL e a um peso de 5,98% no PIB dos concelhos
considerados, a que se associa a criação de 6.321 empregos, que representam
6,27% da população activa destes concelhos”. Para o presidente da Instituição, Nuno
Mangas, este impacto “promove o desenvolvimento das regiões onde se inserem, pela
qualificação que proporcionam as suas actividades de educação e formação, pelo
conhecimento e inovação que geram através da investigação e desenvolvimento, e pelas
dinâmicas sociais e culturais que trazem associadas às suas actividades e
iniciativas”. Fica, assim, confirmada a noção que se tinha, de que os
estabelecimentos de ensino superior contribuem significativamente para o
desenvolvimento dos territórios onde se localizam, demonstrando uma elevada
capacidade de atracção e fixação de novos habitantes – p.e. cerca de dois
terços dos alunos provêm de locais a mais de 50 km e quase metade manifesta a
intenção de permanecer na região após a conclusão da sua licenciatura.
Contudo,
a perspectiva da relação escola-cidade deve também ser entendida em sentido inverso,
ou seja, da relação cidade-escola. Quando a cidade “reconhece, exercita e
desenvolve, para além das suas funções tradicionais, uma função educadora,
quando assume a intencionalidade e responsabilidade da
formação, promoção e desenvolvimento de todos os seus habitantes”, torna-se uma
Cidade Educadora (Declaração de Barcelona, 1990). O sociólogo Joaquim Machado
defende que a cidade deve constituir-se como agente educativo, oferecendo aos
seus habitantes os meios e oportunidades de formação, entretenimento e
desenvolvimento pessoal, em condições de liberdade e igualdade. Para este especialista,
a avaliação da capacidade educadora da cidade passa, por um lado, pela análise
do potencial organizativo do município (recursos humanos e organização dos
serviços) e das actividades de âmbito social, cultural e educacional que
realiza – incluindo iniciativas privadas, cooperativas, associativas e
comunitárias – e, por outro lado, pela observação das acções de remoção de
obstáculos arquitectónicos em edifícios e espaços públicos, de revitalização
dos centros históricos, de devolução da cidade aos peões, de criação de parques
e espaços de lazer, de habitação e alojamento social, e de protecção e segurança.
Edgar Faure afirmava, já em 1972, que a escola terá cada vez
maiores dificuldades em assumir sozinha as funções educativas da sociedade, mas
que a cidade contém um enorme potencial educativo por explorar, a nível de conhecimentos,
civismo e solidariedade. Pelas suas características, Caldas da Rainha tem a
necessidade e a obrigação de aplicar a Carta das Cidades Educadoras, possuindo
todas as condições para o fazer. Não se trata, como defende o pedagogo Cabral
Pinto, de a escola se abrir à comunidade, nem de esta se abrir à escola, mas de
a comunidade organizar um sistema educativo, em que a escola se integra, em
função de um projecto educativo integral e integrador. Foi para assegurar o
cumprimento da referida Declaração que, em 1994, nasceu a Associação
Internacional de Cidades Educadoras, a qual integra actualmente 56 municípios
portugueses, incluindo Torres Vedras, Rio Maior, Santarém e Leiria. Estranhamente,
Caldas da Rainha está fora deste movimento. Alguém nos pode explicar porquê?
(Publicado na Gazeta das Caldas, em 18.09.2015)